"Não há nada mais aconchegante que o abraço da vida. Mas a vida não é uma “coisa” que abraça outra coisa que está acontecendo que não é vida, pois tudo o que está sucedendo é a própria vida. E se tudo que está sucedendo é a vida, além daquilo que estiver sucedendo, não sobra nada. E é justamente este “nada “, aquilo que abraça cada acontecimento. Este “nada”, porém, é um “nada que observa”. É uma observação que não tem forma alguma, mais que está presente sempre. Por isto, talvez a palavra presença se encaixe melhor que nada. Esta presença que abraça, invisível, é também um profundo respeito a cada acontecimento, pois não altera em nada o que esta acontecendo. E a vida então é o abraçado e aquilo que abraça. A Vida é o próprio abraço. É a presença em cada acontecimento. Presença que esta intrínseca em cada movimento. Cada movimento é então pura vida. Vida acontecendo. Cada objeto, cada ser. As pedras são vida. São a presença da vida em forma de pedra. É simples porém profundo. Ver em tudo, absolutamente em tudo a vida, é sentir o abraço, pulsar neste abraço. Ver que a presença está em cada animalzinho, em cada inseto, em cada plantinha, em cada árvore… No vento está a presença. No canto dos pássaros está a presença do abraço. No som do pneu do carro na rua movimentada está a comunhão. Nada se escapa deste amor. E cada detalhe que se manifesta é total, completo nesta presença. Tudo repousa neste aconchego. Até a maior confusão está permeada por este abraço vital. A furia, a dor, a ansiedade…tanto quanto a alegria, a felicidade e o êxtase. É um abraço de si mesmo para consigo mesmo. Um abraço sem precisar ir ao encontro. A existência, apenas existindo, já é o encontro. A própria vida é o presente."
~ Haroldo Vargas
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